2/11/2013

A promoção do livro na era do digital

Ilustração de Dave Coverly

A multiplicação de novos meios através dos quais é possível ler livros, bem como o crescimento da troca de opiniões entre leitores online, suscitará questões sobre como melhor promover o livro junto do público na era do digital. As editoras ver-se-ão confrontadas com a escolha entre os métodos tradicionais e a necessidade de encontrar processos inovadores e diferentes de chegar aos novos leitores. A melhor forma de prever que processos serão esses, é criá-los.

Nos últimos tempos é possível verificar que obras que têm um bom acolhimento por parte da crítica e uma boa divulgação, não significa necessariamente que sejam bem-sucedidas junto da generalidade dos leitores. Os motivos para tal acontecer são vários e suficientemente vastos para outras reflexões. Com a expansão das redes sociais, os blogueres de leitores ganharam um lugar de destaque entre os opinion makers literários e que não deve ser menosprezado. Identificar os blogueres mais seguidos, conforme o género de livro que se quer promover, e gerar um buzz inicial através deles pode ser o caminho para uma promoção mais eficaz.

As novas tecnologias também podem ser um poderoso aliado. A disponibilização dos primeiros capítulos online antes de a obra estar disponível para venda, não só no site da editora, ou no blogue do autor, mas também em redes sociais de livros, como o Goodreads, entre outros, ajudará a criar um interesse inicial pela obra e permitir analisar a sua aceitação pelo público, bem como redefinir estratégias, de acordo com as conclusões retiradas.

Fazer o podcast de um livro também pode ser um meio interessante de divulgação. Existem já muitos autores e editores estrangeiros que apostam nesta forma de promoção. Poderá exigir um pouco mais de investimento, pois se mal feito, corre o risco de afastar os leitores em vez de estimular a curiosidade sobre o título. Terá de se ter em conta o género, o tipo de história, se é para crianças ou para adultos, e escolher, de acordo com as características definidas, a voz, que terá de ser agradável, com boa dicção.

Apostar no lançamento do livro encadernado já com um código inserido que permita o acesso ao e-book, onde o leitor poderá encontrar informações adicionais sobre a história e o autor, criando assim um valor acrescentado, é outra possibilidade. O contrário também é viável – o lançamento da obra em e-book, que uma vez adquirido dá acesso a um desconto para a compra do livro encadernado, lançado posteriormente, numa edição cuidada, aproveitando a ligação sensorial e emocional que o livro encadernado sempre representa para as pessoas. A receção dos leitores ao e-book até pode ajudar a definir melhor as tiragens dos livros encadernados, evitando assim que os exemplares fiquem acumulados em armazém à espera de uma oportunidade em feiras ou nas épocas de saldos.

Fazer uma espécie de evento virtual com o lançamento da obra em versão e-book, que dê acesso gratuito a uma determinada percentagem do seu conteúdo durante um curto espaço de tempo, pode preparar terreno para a edição do livro na sua forma física, e ajudará a criar um público inicial mais alargado do que os lançamentos tradicionais em livraria, dado que por não estar limitado a uma localização geográfica, chegará a um maior número de pessoas.

Para além da promoção virtual, os lançamentos com a presença dos autores em livraria continuam a ser importantes. Talvez não nos seus modelos atuais, mas num novo modelo que passa pela dinamização de um evento, com particular enfoque na sua componente cultural e talvez até no entretenimento. Levar o autor a uma livraria para falar da sua obra e para uma sessão de autógrafos pode já não ser suficiente para estimular o interesse dos leitores. Nem todos os autores têm boas capacidades comunicativas, pelo que o simples lançamento poderá limitar a possibilidade de o autor chegar aos seus potenciais leitores. Assim o evento deve ter um contexto e um pretexto, sempre de acordo com o tipo de livro que se quer apresentar. Deve ser algo mais do que um simples lançamento. Uma apresentação mais elaborada, que recorra ao multimédia, um debate temático, uma animação, no caso de ser um livro para crianças, podem ser formas diferentes e mais ricas de promover um novo livro junto dos leitores que procuram um contacto mais direto com o autor e com a obra.

As potencialidades são muitas e a sua exploração depende apenas da imaginação de cada um. Cada vez mais as editoras terão de integrar o digital tanto na edição dos seus livros, como na sua promoção. A divulgação multimédia, a interacção entre livro encadernado e e-book, a identificação dos opinion makers literários, o planeamento de estratégias que valorizem a promoção do livro em espaços físicos, constituem, pois, chaves importantes para as editoras do futuro.

Catarina Araújo, assessora de comunicação e escritora

1 comentário:

  1. Um excelente artigo, com boas ideias. É verdade que, hoje em dia, a divulgação dos livros deve adaptar-se aos métodos existentes, ao público, às novas tecnologias. Acho que isto permitirá também colaborações entre diferentes artes, que poderão resultar em trabalhos fenomenais.

    ResponderEliminar