2/13/2013

LeYa-se


Passados que estão mais de cinco anos desde a formação do Grupo LeYa, é altura de olhar para trás e observar o percurso de um grupo que veio para ficar.

Quando, em 2007, o «barão» financeiro Miguel Pais do Amaral, aka Conde da Anadia, descendente direto do Marquês de Pombal e D. Pedro IV (I do Brasil), iniciou um processo de aquisição de muitas das principais editoras portuguesas com o objetivo de criação de um grupo editorial, poucos acreditaram que este fosse um processo para durar. Empresário ligado à velocidade (de investimentos e de veículos motorizados), muitos vaticinavam a este seu Grupo um futuro rápido, detido por alguém mais interessado em emagrecer e vender − em parte ou por inteiro, a qualquer outro grupo internacional mais orientado para a fileira do livro − do que em reunir uma equipa capaz de fazer um trabalho árduo de criação de um importante grupo do mercado editorial português.

Cinco anos volvidos, percebe-se que todos os que assim pensavam estavam errados. Observa-se um trabalho coerente, difícil mas profissional, de gente que conhece as dificuldades do mercado e, ainda assim, permanece. Tendo surgido no dealbar desta «Grande Depressão», o Grupo LeYa trouxe inovação, qualidade e uma forma nova de trabalhar «para o público final». Apesar de restritas às políticas do Grupo, as marcas iniciais mantêm-se autónomas, com coerência de catálogo, mantendo – à exceção de três ou quatro casos infelizes, como o do José Oliveira e o do Marcelo Teixeira, vítimas de um Grupo que não os soube colocar nas funções devidas – as grandes figuras editoriais que fizeram e fazem aquela casa.

Com uma estratégia de branding suave mais permanente (assente numa imagem estável, na Feira do Livro e no Prémio LeYa), o Grupo é hoje uma referência no mercado editorial onde, em reconhecimento, ombreia e muitas vezes ultrapassa o grande gigante do mercado português, a Porto Editora / Bertrand (as eternas top of mind do mercado português, fruto de anos de presença no escolar e de uma rede alargada de retalho).

Se a estratégia inicial do Grupo parece não ter sido alcançada – a valorização dos seus conteúdos, em particular os autores de língua portugueses a uma escala mais global –, o seu propósito foi-o. A LeYa é hoje a editora dos autores de Língua Portuguesa, pelo menos no que a Portugal diz respeito, com uma aposta forte em consagrados e em jovens autores. E o pouco sucesso internacional deve-se mais a fatores exógenos e à pouca relevância e apoio que a língua portuguesa tem no mundo, do que ao trabalho de quem lá está. O Brasil, atualmente o maior sucesso do Grupo, deve-se não tanto à «ponte» entre os dois lados do rio Atlântico (como diz o grande Onésimo Teotónio de Almeida) mas ao excelente trabalho «brasileiro» da editora LeYa no Brasil.

Em relação a despedimentos e atrasos nos pagamentos, ocasionados por alturas da fusão e/ou recentes anos de agravamento da crise, as mesmas verificaram-se e verificam-se em praticamente todas as empresas editoriais e, diria mesmo, em todas as empresas deste país, mas recordemo-nos que a LeYa mantém-se como um dos grandes editores e empregadores editoriais em Portugal e um agente ativo na renovação e dinamização do mercado de trabalho.

Relativamente ao mercado e à concorrência, o Grupo acabou por suscitar algumas reações iniciais, mas que rapidamente se desvaneceram após a aquisição do Grupo Bertrand/Círculo pela Porto Editora ou a adoção de práticas semelhantes pelos concorrentes, estando atualmente tudo (infelizmente) igual mas, com a crise, pior. A tentativa de criação de uma rede própria (juntamente com a CE) não parece ter tido grandes resultados, nem foi uma aposta forte do Grupo, mais preocupados com os conteúdos e com o desenvolvimento de novas formas de chegar ao cliente, continuando a acreditar que é o cliente e não o canal que vende os livros – em Portugal essa realidade ainda não está provada...

Passados cinco anos o Grupo LeYa parece que veio para ficar por mais uns anos, agora com a experiência e a expectativa gerada em torno do mundo digital – que, agora sim, bate à porta e promete alterar o equilíbrio de forças do retalho.

Não mais um outsider, o Grupo LeYa ajudou a acalmar o setor (terminou com as divergências no meio associativo) e deu um toque mais profissional ao mundo da edição, que ainda acha que tudo o que se passa no mercado é uma ofensa pessoal. Desde o início colocado por muitos «do outro lado da barricada», o Grupo LeYa merece ser hoje visto como o membro ativo e dinamizador que, ao longo destes cinco anos, provou ser.

Nuno Seabra Lopes

2 comentários:

  1. Pois sim, mas , no essencial, continuam sem apostar em autores desconhecidos.O valor seguro e consagrado a margenzinha de lucro garantida pelos nomes sonantes é a estratégia primordial correndo , assim, o risco de cristalizar e fechar-se sobre uma única linha editorial e programática... cristalizando assim,

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  2. Caro Nuno,

    Não é minha intenção comentar o seu texto. Nem dar opinião sobre concordância ou discordância. Isto porque entendo que só o enquadramento numa análise mais vasta do universo editorial no nosso país, permitirá tirar conclusões a esse respeito.

    Julgo, no entanto, ser pertinente referir dois aspectos:
    1) Quando menciona "mantendo – à exceção de três ou quatro casos infelizes, como o do José Oliveira e o do Marcelo Teixeira, vítimas de um Grupo que não os soube colocar nas funções devidas – as grandes figuras editoriais que fizeram e fazem aquela casa", está, ao nomear dois exemplos, a deixar de lado alguns dos maiores nomes da edição portuguesa contemporânea que, na minha opinião, são figuras maiores de Editores que deixaram obra e que não deveriam deixar de ser referidos.
    2) Dizer que o Grupo Leya "terminou com as divergências no mundo associativo", parece-me, de todo, excessivo; parafraseando «o outro» - eu sei que sabe que eu sei que sabe que eu sei -, diria que a constituição do Grupo Leya, ao englobar um número muito significativo das pricipais editoras filiadas na UEP, acabou por criar condições para que se concretizasse o objectivo constante no Manifesto de Candidatura da lista única concorrente à eleições dos Órgãos Associativos da APEL, para o triénio 2008-2010: " Diligenciar no sentido de se alcançar a articulação e harmonização do movimento associativo, com espírito de consenso, postura assertiva e respeito mútuo, procurando um modelo organizativo que, salvaguardando o património comum de editores e livreiros, permita encontrar soluções de trabalho comuns, flexíveis, eficazes e duradouras."

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