3/18/2013

Plataformas de submissão de originais – o Authonomy.com


«Get read. Get noticed. Get published.»
É assim que a plataforma authonomy.com, criada pela HarperCollins em 2008, chama ao seu sítio todos os aspirantes a autores publicados e não só. Trata-se de uma comunidade online que reúne leitores e escritores num só espaço. A ideia terá surgido como uma forma de dar a oportunidade aos membros da comunidade de avaliarem originais que muito provavelmente passariam despercebidos pelos editores.

Através desta plataforma um escritor tem a possibilidade de disponibilizar os seus livros gratuitamente e de ser avaliado pelos membros registados no site, que podem ser outros escritores da comunidade. Aqueles livros que receberem o maior número de recomendações por parte dos utilizadores vão parar a um top. Ao fim de um tempo predefinido, os cinco originais mais recomendados são lidos internamente por editores da HarperCollins que fazem uma apreciação profissional. A comunidade está aberta a todos, desde que sejam maiores de 18 anos, mas os textos terão de estar escritos na língua inglesa.

Trata-se pois de uma maneira diferente de descobrir novos talentos, aproveitando a tecnologia das redes sociais para permitir aos leitores separarem o trigo do joio entre as obras submetidas para apreciação. Deste modo, quando chega à secretária do editor possui já um primeiro certificado de popularidade entre uma comunidade de leitores que à partida, supõe-se, será mais exigente. A reputação dos próprios utilizadores pode mesmo influenciar a escalada de um original no top dos mais recomendados, dependendo do número de avaliações que faz e da qualidade dos mesmos. Existem ainda os talent spotters, membros da comunidade que detetaram um ou mais originais que entretanto se tornaram populares. Quanto mais recomendações certeiras fizerem, mais sobem no ranking do top talent spotters. A instituição destes diferentes rankings, tanto para escritores, como para os originais, como para os leitores, cria uma dinâmica ainda mais apelativa em toda a atividade da plataforma.

Num site deste género que alia o conceito de comunidade online, à auto edição e à edição tradicional, o escritor terá de fazer um trabalho de divulgação que no meio de um mar de textos, alguns deles incompletos, poderá não ser muito fácil. A pensar nisso, o site oferece dicas sobre como escrever uma sinopse cativante ou como escolher um bom título para o livro. Disponibiliza também ferramentas para o escritor melhorar a sua escrita e aperfeiçoar os seus textos, na secção «Writing Tips».

Todavia, é inevitável um novo utilizador confrontar-se com várias dificuldades para fazer com que o seu trabalho seja visto. Terá de estabelecer contactos para garantir que o maior número de utilizadores possível repare no seu texto e o divulgue entre si, e isso dependerá da habilidade do escritor em cativar os leitores da comunidade. Por outro lado, as respostas, mesmo que poucas, em princípio ajudarão a identificar os pontos fortes e, sobretudo os fracos, do texto submetido. Essa interação permitirá fazer uma revisão mais aprofundada com base num feedback mais ou menos construtivo que dificilmente receberia caso enviasse diretamente o livro a um editor ou a um agente.

Segundo os responsáveis do authonomy.com, há já agentes literários e scouts que visitam o site à procura de novos talentos, pelo que mesmo que um original não chegue ao top da Editor’s Desk da HarperCollins, poderá vir a ser selecionado por outros agentes fora da casa. De acordo com a Wikipédia, à data em que o site foi colocado online depois de alguns meses em versão beta, a plataforma contava já com mais de 24 000 utilizadores registados.

Mais recentemente a HarperCollins criou uma chancela digital, a Authonomy Digital Imprint, exclusivamente para a edição de originais descobertos através da plataforma. Os editores prevêem a possibilidade de alguns dos livros terem uma edição impressa, caso as vendas em versão e-book sejam boas. A plataforma, apesar de geralmente bem recebida, não escapou a alguma controvérsia. A assertividade da frase «Get read. Get noticed. Get published» pode ser enganadora. Tal como acontece nos comentários da Amazon ou do Goodreads, coloca-se em causa a intenção dos utilizadores que recomendam livros na plataforma, neste caso fazendo-o apenas com o objetivo de ver os seus próprios livros igualmente recomendados por quem ajudou a escalar a tabela dos mais populares, num jogo de influências que deturpará todo o objetivo da comunidade.

Talvez por isso há quem desconfie da plataforma e prefira continuar a privilegiar o contacto direto com editores e agentes ou então escolher a via da auto-edição. Não obstante, a comunidade authonomy.com é, sem sombra de dúvida, um passo em frente na adaptação das editoras aos novos tempos em que as redes sociais imperam no mundo virtual da internet.

Catarina Araújo, escritora e assessora de comunicação

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