6/14/2013

Ler em Comunidade

 

Na recente Feira do Livro de Lisboa estive a organizar, a convite da Sofia Ramos e do site www.clubedaleitura.com, um conjunto de sessões que levaram à referida feira 10 das mais importantes comunidades de leitores da área da Grande Lisboa (e não só).

Eu tinha já uma ideia da importância dessas comunidades mas fiquei surpreso com a qualidade e poder de mobilização das mesmas. Com efeito em anos de visitas à Feira do Livro de Lisboa nunca vi eventos tão frequentados exceptuando os casos pontuais de visitas de autores ou personalidades bastante mediáticas. Tivemos uma média de 40 pessoas por sessão e essas pessoas vieram quase todas através das iniciativas de mobilização da comunidade em si.

O objectivo era trazer para junto do público leitor em geral o fenómeno e as diferentes mecânicas que regem as comunidades de leitores. Cada comunidade explicou a sua metodologia - as diferenças são significativas: temos comunidades que analisam uma obra por sessão e outras que discutem uma obra capítulo a capítulo, há comunidades que convidam autores e outras que o recusam, há comunidades que organizam passeios e jantares literários, etc) - mas no compto geral, e esse é o ponto essencial que me leva a escrever aqui, o que une as comunidades de leitores é uma espécie de união resistente em torno da leitura.

Independentemente do tipo de literatura que cada comunidade aborda, encontra-se nos seus membros a vincada vontade de comunicar com um grupo de pessoas que compartilham o gosto pela leitura.

As primeiras comunidades arrancaram há cerca de 10 anos, mas tem sido nos últimos 3 ou 4 anos que a proliferação das comunidades de leitores afectas sobretudo a bibliotecas, livrarias e algumas instituições culturais, ganhou novo fôlego. No que toca aos espaços que recebem as comunidades as vantagens são evidentes: as bibliotecas e instituições ganham a presença de um público fiel que de forma mais ou menos directa acaba por estar mais próximo das actividades que essas entidades desenvolvem. No caso de livrarias cria-se uma comunidade de compradores não apenas potenciais mas efectivos (ainda para mais quando os membros da comunidade fazem sugestões e recomendam leituras alternativas e complementares à obra em análise).

Mas acima de tudo, das comunidades já com alguns anos vão nascendo e crescendo ramificações: novas comunidades e novos membros. Ouvi histórias que provam o quanto estas comunidades têm um efeito quase "evangelizador", angariando novos leitores e desenvolvendo os hábitos de leitura e este esforço espontâneo é o único a ser desenvolvido afinal de forma sistemática e continuada no sentido de trabalhar novos leitores.

O trabalho dos dinamizadores de cada comunidade é complicado pois tem ainda e muito de lidar com a velha ideia de que quem trabalha nestas coisas, fá-lo por gosto e portanto não precisa de ganhar nada com isso.

Não queria acabar sem afirmar o prazer que foi estar com tanta gente que fala de livros e de leitura com tanta paixão, aliás, agora que penso nisso, talvez tenha sido a primeira vez que vi tanta gente que realmente gosta e quer falar desse seu gosto de ler. Que a indústria do livro continue cega a todos estes sinais seria, para mim, o grande enigma, se o André Schiffrin não o tivesse explicado (e sobre o André Schiffrin e o seu livro, escreverei para a semana).  


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